sexta-feira, 6 de março de 2015

Dr. Sin – Intactus (2015):



Por Davi Pascale
            
Trio paulista chega à seu sétimo álbum de inéditas mantendo sua tradicional mistura de hard/heavy com progressivo. Em Intactus, trio não reinventa a roda, mas mantém a qualidade de seus trabalhos anteriores.

Dr. Sin é aquela típica banda que tinha de tudo para acontecer, mas a mídia insiste em fingir que não vê. Com músicos de primeiro time, ótimas composições, tinham de tudo para estar entre os grandes vendedores de discos em nosso país. Parte dessa não consagração, acredito ser por cantarem em inglês. Por conta do modo como ocorreu a explosão do Sepultura, criou-se um mito de que era possível atingir fama mundial, caso cantassem na linguagem do Tio Sam. Isso fez com que vários artistas que não tinham domínio do idioma começassem a gravar em um inglês macarrônico, o que ajudou a afastar ainda mais os empresários. Se heavy metal já não era bem visto em nosso país, depois dessa moda (que dura até hoje) então...

Tomei conhecimento do trio por ser, até então, o novo grupo dos ex-integrantes da banda Taffo. Engraçado que na época do primeiro disco, tinha certeza que os caras iam arregaçar. Sua apresentação no Hollywood Rock em 1993 foi considerada um dos grandes destaques do festival pela imprensa. Os clipes de “Emotional Catastrophe” e “Silent Scream” tiveram um destaque razoável na MTV. Essa mesma MTV chegou a exibir um programa chamado Peso Local com os melhores momentos dos shows de 3 grupos brasileiros: Pitbulls On Crack, Angra e o Dr. Sin. Outra situação que ajudou a abafar o reconhecimento dos meninos foi o fato da Rock Brigade (até então a principal publicação de rock pesado do país) ter empresariado o Angra. Esse fato fez com que ficasse cada vez mais raro grupos nacionais ganharem um grande destaque na publicação (principalmente capa). Muitos ótimos artistas nacionais passaram despercebidos por seus leitores. A revista era uma referência para os amantes de hard/heavy em nosso país. Sem apoio da grande mídia e com descaso da mídia especializada fica difícil dominar o mercado.

Mesmo assim, conseguiram criar uma base de fãs incrivelmente fiéis. E, certamente, irão mantê-los com esse lançamento. “Saturday Night” abre o CD com um tema que é um pouco clichê, mas que os fãs do movimento amam. Fala sobre curtir o fim-de-semana, esquecendo dos problemas, ao som do bom e velho rock n´ roll. O arranjo é bem pra cima, um som divertido de se escutar. “How Long” vem na sequencia trazendo o som tradicional do Dr. Sin. O grande destaque nessa música é o trabalho vocal de Andria Busic. Após mais de três décadas esgoelando por aí, o cara encontra-se com as cordas vocais em perfeitas condições ainda.

Trio se destaca por capacidade técnica e ótimas composições

“We´re Not Alone” traz aquele som pesado misturando momentos velozes com momentos arrastados, nos remetendo aos tempos de Brutal. A primeira balada do disco é Soul Survivor”, onde os irmãos Busic dividem os vocais. Alguns elementos de Southern rock aparecem por aqui. Especialmente na linha vocal de Ivan, que em certos momentos nos remete à Lynyrd Skynyrd. “The Great Houdini” traz um som mais cadenciado, casando baixo com guitarra. Uma das características principais do trio, que os acompanha desde seu debut. No meio dessa música tem uma quebrada de tempo altamente influenciado por Rush. Outra característica que os acompanha desde sempre.

“This Is The Time” e “Without You” são as baladas presentes na segunda parte do disco. Dessa vez, com uma cara mais anos 80. “The Big Screen” deve fazer a cabeça dos fãs de Van Halen. Tanto o trabalho de Edu Ardanuy quanto o de Ivan Busic nos remetem aos trabalhos do Van Halen fase David Lee Roth. Andria e Edu roubam a cena na cativante “Set Me Free”. Já a faixa de encerramento,“Fight The Good Fight”, surpreende ao trazer um arranjo trincado, com influencias de prog (o inicio me lembrou Dream Theater) em um som não tão pesado assim. Ficou bacana.

Espero que um dia esses caras consigam atingir o reconhecimento que merecem. A prova de que não precisa criar novos grupos para ter uma cena forte de rock na mídia. Os ótimos artistas estão por aí. Basta investirem. O mais triste de tudo é saber que com bandas desse nível, a atenção da imprensa está voltada para o disco de rock que o Mr. Catra está gravando. E mais triste ainda é notar que tem fã de rock apoiando. Hora de acordar...

Nota: 9,0 / 10,0
Status: Excelente

Faixas:
      01)   Saturday Night 
      02)   How Long
      03)   We´re Not Alone
      04)   Soul Survivor
      05)   The Great Houdini
      06)   This Is The Time
      07)   The Big Screen
      08)   Set Me Free
      09)   Without You
      10)   Fight The Good Fight