sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Pepeu Gomes – Alto da Silveira (2016):



Por Davi Pascale

Pepeu Gomes solta novo álbum instrumental. Longe do som das rádios, musico mantém suas origens e deve agradar quem curtia o início de sua carreira-solo.

Aqueles que acompanham apenas a cena mais pesada irão se lembrar da história do convite do Megadeth ao músico lá no início dos anos 90. Quem curte diferentes gêneros, certamente já ouviu, ao menos uma vez na vida, canções como “Alma”, “Masculino e Feminino”, “Fazendo Musica, Jogando Bola” e “Um Raio Laser”. Quem se liga no rock produzido no Brasil nos anos 70, irá se recordar dos Novos Baianos. De certa forma, todo mundo sabe quem é o Pepeu. Mas quem irá curtir mesmo esse novo álbum são aqueles que curtem o Pepeu da Geração de Som e da Terra A Mais de Mil.

Pepeu Gomes é, certamente, um dos melhores guitarristas do Brasil. Além de possuir uma grande intimidade com o instrumento, o músico conseguiu algo que poucos músicos brasileiros conseguiram, criou uma sonoridade própria. Não apenas em termos de composição, mas em termos de timbragem, de palhetada. Bastam poucos acordes para sabermos que aquela guitarra que estamos ouvindo é do Pepeu. Muito provavelmente por sua escola musical. Suas influencias vão de Waldir Azevedo à Jimi Hendrix. E essas características todas estão presentes no som do músico desde sempre.

Realizado em parceria com o Sesc, Alto da Silveira é um álbum típico do Pepeu. Canções instrumentais, mas sem exibicionismos, focados em melodias, brinca bastante com a ideia de construir temas. No disco, como já era de se esperar, temos referências das mais diversas possíveis.

“Fim da Festa” traz aquela levada suingada característica do músico, com aquela palhetada que já explorou em musicas mais pops como “Um Raio Laser”. Os tempos de Novos Baianos são lembrados em “Bolado II” e “Na Pele de Pelé”. O rock n roll surge com força em “Rock no Carnaval” e “Aurora Boreal”. A influência do chorinho aparece em “Chorando no Cantinho”, enquanto “Isabella... Eu Tive Uma Ideia” aponta em uma sonoridade latina com fortes influências de Santana. A linguagem do jazz rock aparece em diversos momentos. Como de costume, mistura o acústico com o elétrico. Passeia pela guitarra, pelo cavaquinho, pelo violão e pela guitarra baiana. Traz sua sonoridade característica misturando rock n roll com música brasileira. Brincadeira que faz desde os anos 70.

Alto da Silveira se refere ao local onde o musico foi criado. O garoto presente na capa do disco é o próprio guitarrista na época em que estava dando seus primeiros passos na musica. Na verdade, o Novos Baianos foi o primeiro grupo que ele tocou que deu certo, mas ele já estava batalhando antes disso. As primeiras gravações que conheço dele são dele ainda criança, no contrabaixo, em um conjunto chamado Os Minos. Hoje, os compactinhos dessa época são considerados verdadeiras relíquias.

Você não precisa ser um guitarrista, sequer um musico para conseguir apreciar o repertório do novo CD. Para os fãs, inclusive, é normal já que Pepeu, já se aventurou nesse território algumas vezes. Entretanto, vale frisar que esse disco não levará o guitarrista de volta às rádios. Não existe um campo para musica instrumental no Brasil. Não é um trabalho de hits. É um trabalho artístico, mas muito bem feito e construído de forma inteligente.

Nota: 9,0 / 10,0
Status: Excelente

Faixas:
      01)   Dinamite
      02)   Na Quebrada do Garcia
      03)   Fim da Festa
      04)   Farroupilha Blues
      05)   Aurora Boreal
      06)   Na Pele do Pelé
      07)   Índio do Alto da Silveira
      08)   Isabella... Eu Tive Uma Ideia
      09)   Xulipe no Reggae
      10)   Para Paco “De Lucia”
      11)   Cine Pax
      12)   Caravaggio
      13)   Chorando no Cantinho
      14)   Bolado II
      15)   Coração Mudo 
      16)   Rock No Carnaval