quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Kiss: a primeira autobiografia



 

 
Por Davi Pascale

Existem vários livros sobre o Kiss por aí. Acabam de serem lançados no Brasil, inclusive, as edições em português de Nothing To Lose: The Making of Kiss e a autobiografia de Peter Criss: Makeup to Breakupup. Engana-se, contudo, quem acredita que o catman foi o primeiro integrante da banda a lançar uma autobiografia. O primeiro cara a se aventurar nesse universo foi o judeu Chaim Witz, ou como é mais conhecido por aí, Gene Simmons.


Apesar de interpretar o demônio nos palcos - ou como costumava brincar nas entrevistas no início de carreira, a reencarnação do próprio mal - ele é o mais certinho do grupo. Tanto ele quanto Paul Stanley são extremamente caretas. Nunca foram viciados em drogas, não fumam e Gene, além de tudo isso, não bebe. Stanley ainda bebe alguma coisa, mas não a ponto de cair de bêbado. Ace e Peter já são outra história...

Embora nunca tenha se entregado aos vícios, o linguarudo é conhecido pela proeza de levar mais de 4.000 mulheres para a cama. Segundo Gene, ele tem foto Polaroid de várias delas e faz questão de afirmar que todos esses retratos foram tirados com permissão das moças. O guitarrista Ace Frehley chegou a declarar recentemente que acredita que Simmons é viciado em sexo. No livro, o baixista conta algumas histórias envolvendo garotas, incluindo algumas um tanto quanto bizarras como quando ele foi reconhecido por uma velhinha no aeroporto e depois de um tempo, se deu conta que era uma das mulheres com quem havia dormido nos anos 70.


Explica aqui as mudanças de nome. De Chaim Witz para Gene Klein. De Gene Klein para Gene Simmons. Comenta sobre sua mudança de Israel para os Estados Unidos, sobre seus ídolos de infância, sobre a importância e a influencia dos quadrinhos em sua vida. Há algumas histórias curiosas de quando era criança, como quando contraiu poliomielite aos 3 anos de idade chegando a ser encaminhado para o hospital. Certa noite depois de chorar e berrar o mais alto que podia por ter necessidade de ir ao banheiro, decidiu descer da cama e fazer suas necessidades no chão do quarto. Quando a enfermeira retornou, encontrou as fezes no chão e foi à loucura.

Gene em sesão para a Playboy


Claro que não poderiam faltar histórias envolvendo o Kiss. É narrada, em detalhes, a trajetória da banda nos anos 70 com direito à algumas histórias de bastidores como o segredo para o rosto de Ace Frehley não estar 100% nítido na capa de Hotter than Hell. Ainda envolvendo o spaceman, conta como salvou o rapaz durante a turnê desse mesmo disco. Segundo Simmons, ele havia descido para o saguão do hotel com o intuito de conhecer algumas garotas e quando retornou ao quarto encontrou Ace desmaiado na banheira. A água já havia coberto sua boca, mais alguns minutos o rapaz teria morrido afogado.


Comenta também sobre sua longínqua parceria com Paul Stanley, segundo ele, uma das poucas pessoas em quem aprendeu a confiar. E claro que não poderia faltar também alguns ataques ao baterista Peter Criss, mais um integrante envolvido nas drogas e nas bebidas. Segundo o autor, a razão de Peter não ter tocado em todo o álbum Dynasty era pelo fato de Vini Poncia, produtor do álbum, acreditar que o catman não tinha condições de tocar em um álbum do Kiss. O mais tenso de tudo é que uma das razões que os levaram a escolher Vini era o fato dele ter sido o responsável pela produção do álbum solo do baterista um ano antes. Era um modo de demonstrarem que não tinham vergonha do seu disco, como o músico acreditava. 


A parte dos anos 80 passou um pouco por cima. Fala bastante sobre seu romance com a cantora Cher e sua aventura no cinema. Diz que não sentia confortável com aquela idéia de se apresentarem sem as mascaras. Que fizeram isso por não haver outra alternativa. Diz que os fãs não aceitavam os novos personagens e que a chegada da MTV trouxe uma nova linguagem visual, que tiveram que se adaptar para não deixar o projeto morrer. Declara que durante essa época chegou a deixar o Kiss em segundo plano, deixando Paul Stanley no comando principal e que hoje se arrepende de ter deixado a banda um pouco de lado. Explica ainda sobre a gravadora que fundou, comenta sobre os artistas que produziu, rasga elogios ao falecido baterista Eric Carr e relata sobre como conheceu sua atual esposa Shannon Tweed. Mas as histórias sobre as gravações e turnês desse período meio que passaram batido.

Gene Simmons e Paul Stanley sem as máscaras


Não faltam detalhes sobre a volta do grupo às mascaras e sobre o retorno dos integrantes originais. Fala abertamente sobre a dificuldade de estar na estrada com os velhos rapazes retornando aos velhos hábitos, sobre a dificuldade de ensaiar com Ace chegando ao estúdio com horas de atraso e sobre a decisão de realizar a Farewell Tour. Em respeito às polêmicas gravações de Psycho Circus, não esconde o fato de ter utilizado outros músicos no lugar de Ace e Peter, mas defende a idéia de que tiveram que fazer isso porque os dois simplesmente não apareciam no estúdio para tentar pressioná-los a aumentar o valor de seus contratos. Explica, aliás, o fato de Ace ganhar mais do que Peter. The demon diz que quando retornaram os dois ganhavam a mesma quantia, mas que Ace exigiu a receber mais do que Peter e ameaçou sair da banda caso não concordassem com isso. O linguarudo disse que por ele ok, mas que Ace teria que se encarregar de contar ‘as boas novas’ ao seu amigo Peter. Óbvio que ele não contou e depois de um tempo a coisa esquentou...


Quando escreveu esse livro, em 2001, a banda estava planejando parar, portanto, não está explicado aqui o porquê o grupo não se aposentou no final da Farewell Tour. Esse material não foi lançado no Brasil, mas é bem fácil de se encontrar em sites como a Amazon. Certamente, uma leitura não apenas divertida, mas essencial para qualquer fã do quarteto.