quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Michael Sweet – One Sided War (2016):



Por Davi Pascale

Michael Sweet ataca novamente e lança um dos melhores álbuns de sua carreira-solo. Pesado, com som de guitarra na cara e trabalho vocal impactante, músico deve agradar seus fãs.

Esse é um dos melhores álbuns que ouvi nos últimos tempos e é, certamente, um dos melhores álbuns de sua carreira-solo. Diria que é o que mais se aproxima do trabalho que realiza ao lado do Stryper. Mas esse não é o fato principal para considerá-lo como um enorme destaque. Sim, gosto muito do Stryper, mas sempre curti também sua carreira-solo. Sempre ficava na expectativa para ver o que iria aprontar. E, mais uma vez, o cara não decepciona. O grande destaque aqui é a qualidade das composições. Uma faixa melhor do que a outra.

Para registrar esse material, o músico contou com a presença de Joel Hoekstra (Whitesnake) nas guitarras, o baterista Will Hunt (Evanescence) e os baixistas John O´Boyle e Ethan Brosh. One Sided War é um álbum mais focado nas guitarras, mais pesado e menos moderno do que anterior, (o ótimo) I´m Not Your Sacrifice.

Além de ser dono de uma bela voz, Michael também é um guitarrista de mão cheia. No Stryper, sempre fez bonito ao dividir o instrumento com Oz Fox. Inclusive, criando e interpretando parte dos solos. E aqui não é diferente. O cara arrebenta nos vocais e as guitarras se destacam com bastante intensidade.

Outra característica marcante de seu grupo principal e que dá as caras por aqui são os vocais dobrados. Continua apresentando aqueles backings cheios e harmoniosos, que seus fãs estão tão acostumados. Os arranjos aqui são heavy metal tradicional. Sem nenhum toque de modernidade. Sem programações, sem teclados. Não temos também por aqui aquelas baladas mais melosas e/ou repletas de violões. A faixa mais lenta é a sombria “Who Am I”.

“Bizarre” traz um riff inicial inspirado em Van Halen. “Radio” traz uma pegada mais bluesy country rock para dentro do heavy metal. Não é a primeira vez que alguém brinca com esse universo, mas são poucos os que se saem bem. “Can´t Take This Life” foi gravada duas vezes. Uma contando apenas com o trabalho vocal de Michael Sweet. E outra contando com a participação especial de Moriah Formica. Uma garota de apenas 16 anos de idade. Embora prefira a versão em que cante sozinho, é nítido que a menina possui um enorme talento.

Os fãs de Stryper irão se identificar com “Comfort Zone” e “Golden Age”. Já “You Make Me Wanna Move” e “Only You” contam com uma pegada mais radiofônica, embora sejam faixas fortes. “Only You” é uma das minhas favoritas do disco.

Michal Sweet demonstra, mais uma vez, como fazer um álbum de heavy metal. Riffs impactantes, refrãos memoráveis, solos empolgantes, trabalho vocal louvável. Álbum pesado e melódico ao mesmo tempo. Altamente recomendado!

Nota: 9,0 / 10,0
Status: Empolgante

Faixas:
      01)   Bizarre
      02)   One Sided War
      03)   Can´t Take This Life
      04)   Radio
      05)   Golden Age
      06)   Only You
      07)   I Am
      08)   Who Am I
      09)   You Make Me Wanna
      10)   Comfort Zone
      11)   One Way Up 
      12)   Can´t Take This Life (c/ Moriah Formica)

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Sheryl Crow: O Álbum Nunca Lançado [1992]

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Por Davi Pascale
Publicado originalmente no site Consultoria do Rock

Revirando minha coleção de discos, me deparei com esse CD que não escutava há algum tempo. Todo mundo conhece o famoso trabalho de estréia da norte-americana Sheryl Crow intitulado Tuesday Night Music Club que invadiu as rádios do mundo todo em 1993 com musicas como “All I Wanna Do”, “Leaving Las Vegas”, “Strong Enough”, “Can´t Cry Anymore”, “Run, Baby Run”… O que muitos não sabem, contudo, é que esse não era exatamente o início de sua carreira.

Antes de atingir o estrelato, Sheryl Suzanne Crow, nascida na pequena cidade Kenett, foi professora de música em uma escola primária chamada Kellison (localizada em outra pequena cidade dos Estados Unidos, Fenton). Atuou ainda como cantora de jingles, foi backing vocal em turnês de artistas do calibre de Michael Jackson, Joe Cocker e Bonnie Raitt, compôs para artistas renomados (como “Love You Blind” de Celine Dion, por exemplo) e gravou backing vocals no disco de outras grandes estrelas como Rod Stewart, Stevie Wonder e Don Henley.

Seu primeiro álbum, na realidade, foi gravado dois anos antes de atingir a fama. Para a produção foi chamado o inglês Hugh Charles Padhgam, profissional renomado que já tinha trabalhado em álbuns como Invisible Touch (Genesis), Synchronicity (The Police) e Press to Play (Paul McCartney), só para citar alguns. Na lista de músicos, além da própria Sheryl, estavam nomes como Vinnie Colaiuta (baterista que já acompanhou artistas como Jeff Beck, Sting e Frank Zappa), Pino Palladino (atual baixista do The Who) e o guitarrista Dominic Miller (guitarrista que já trabalhou com Sting, Phil Collins e King Swamp).

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Sheryl Crow atuando como backing do Michael Jackson

A cantora norte-americana assinou seu contrato com a A&M Records em 1991. Logo de cara, entrou em estúdio para gravar seu material de estréia. O material ficou pronto no ano seguinte e deveria ter sido lançado em 22 de Setembro de 1992. No entanto, de ultima hora, o material foi engavetado. A gravadora dizia que o álbum não era comercial o suficiente. Sheryl, por outro lado, gostava das músicas, mas não gostava da sonoridade do álbum. Unindo o útil ao agradável, a artista resolveu começar com outro projeto, do zero mesmo, que acabou resultando no disco que todos conhecem.

Vale ressaltar uma curiosidade… Muitos tratam esse álbum como o disco “nunca lançado”. O CD que eu tenho (bootleg, obviamente), inclusive, traz essa informação. No entanto, isso é uma meia verdade. Como assim? É verdade que esse CD nunca foi para as lojas, mas a gravadora chegou a iniciar seu trabalho de divulgação antes de abortá-lo. O material realmente não existe no formato compact disc, mas algumas fitas cassetes foram distribuídas para os jornalistas da época com esse material. Essas fitas foram prensadas pela A&M Records, portanto, é um material oficial.  Ou seja, ele existe promocionalmente. Foi daí que nasceram os famosos bootlegs…

O lado A trazia as canções “All Kinds Of People”, “Father, Son”, “What Does It Matter”, “Indian Summer”, “I Will Walk With You” e encerrava com “Love You Blind”. Já o lado B trazia as faixas “Near Me”, “When Love Is Over”, “You Want It All”, “Hundreads of Tears”, “The Last Time” e “The Borrowed Time”.

Mas afinal de contas… O album era tão ruim assim? Ele é ou não é comercial? Vamos à ele… No meu CD, está gravado primeiro o lado B e depois o lado A, mas vou manter a sequência acima para não confundir os leitores…

Começaremos pelo primeiro lado da tal fita. “All Kinds os People” e “Indian Summer” são musicas que poderiam facilmente terem se tornado grandes hits na década de 80. Traziam boas linhas vocais, teclado em excesso e refrões de fácil assimilação. Entretanto, em se tratando de anos 1990, os arranjos já soavam um pouco ultrapassados para a época. As músicas, contudo, não são ruins. Inclusive, “All Kinds of People” foi regravada mais tarde por Tina Turner em seu álbum Wildest Dreams. “Father´s Son”, por outro lado, já dava uma dica do que a cantora faria no futuro com forte presença de violões e já trazendo seu estilo característico de cantar. Poderia facilmente ter sido regravado em trabalhos posteriores, assim como a linda balada “What Does It Matter” que além de trazer uma bonita orquestração, ainda contou com a participação mais do que especial do ‘eagle’ Don Henley. A faixa já trazia uma roupagem bem madura e agradaria seus atuais fãs. “I Will Walk With You” é mais uma balada que tem o piano como base principal. Entretanto o refrão com coral por trás, com uma guitarra crescendo no solo no meio de uma musica, traz de volta aquela sonoridade pop oitentista que me agrada, mas já estava saindo de moda nessa época. O lado A encerra com “Love You Blind” que é aquela faixa que citei ter sido gravada por Celine Dion lá no inicio do texto. Uma faixa não mais do que razoável.

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O lado B inicia com a boa “Near Me” que, mais uma vez, eliminando os teclados, torna-se uma canção típica da artista. A única desse segundo lado com tal característica, mas não a única faixa bacana. As animadas “You Want It All” e “The Last Time” também são muito boas. Além de trazerem um ótimo trabalho vocal, já davam a dica de quão talentosa era Sheryl Crow enquanto compositora. Os arranjos são bem legais. “The Last Time”, para mim, é um dos pontos alto do álbum. “When Love Is Over”, “Hundreds of Tears” e “Borrowed Times”  trazem de volta aquele lado baladeiro com fortes influencias da década de 80. Dessas 3, a única que considero fraquinha é “When Love Is Over”.

Em resumo, o álbum é bem legal, mas realmente não traz, ao menos na maior parte do tempo, uma sonoridade que nos remeta imediatamente à imagem da artista. Durante o CD ela transita por diferentes sonoridades, o que demonstra que ainda estava em busca do seu som. Algo perfeitamente normal para quem está iniciando uma carreira. Entretanto, não concordo com a gravadora de que o álbum não era comercial. Pelo contrario, acho mais pop do que o som posterior dela. E algumas músicas daí, com pequenos ajustes (dando uma atualizada nos arranjos, para ser mais preciso), tornariam-se hits fácil, fácil…

Entendo a crítica que a artista faz ao material. Para quem não está por dentro, ela costuma dizer que acha a produção exagerada e que quando resolveu fazer o (ótimo) Tuesday Night Music Club, a principal meta dela era buscar um som mais polido. Realmente há um exagero no uso dos teclados, que na verdade é o que ajuda a dar essa cara oitentista que tanto mencionei no texto. Entretanto, não acho que seja um material ultrajante a ponto de ficar trancando a sete chaves. Pelo contrario, como disse anteriormente, o disco é bom… Ainda acho que deveria lançar esse material oficialmente, afinal faz parte da historia e o respeito dela enquanto artista já está mais do que conquistado. Em 2013, fez 20 anos que ela atingiu a fama. Teria sido uma boa “desculpa” para colocar esse material nas lojas, mas não rolou…

Para os fãs e colecionadores, existem várias edições bootlegs desse material. Essa edição que tenho é tida como uma das que tem melhor qualidade de som, mas não tive acesso à outros bootlegs para comparar e afirmar com precisão. Esse CD que tenho foi prensado em 1997 e além de trazer o material demo, trazia ainda versões ao vivo de “Leaving Las Vegas”, “Can´t Cry Anymore” e “Happy” (canção dos Rolling Stones). A capa foi extraída do single da “All I Wanna Do”. O cara não se dignou nem em apagar o nome da musica da foto. A única mudança foi transformar a imagem em preto e branco, como se fosse um xerox. Embora a produção gráfica não seja animal, nem encarte tem, a qualidade de áudio é muito boa. Quem é fã, vale a pena ter. Ele é conhecido pelo nome de The Unreleased Album. Na contracapa vocês vão ver um pequeno texto indicando que o material foi gravado em 1990. Não foi!, a capa está errada! É de 1992. Vocês vão ralar um pouquinho para encontrar, desembolsar uma grana razoável (não tenho idéia de quanto custe esse exemplar atualmente, mas normalmente um CD bootleg costuma custar em torno de 70 a 100 reais, salvo raras exceções), mas até que ela resolva colocá-lo nas lojas, é nossa única alternativa.

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Capa do bootleg

Tracklist (obedecendo a ordem original):
1. All Kinds of People
2. Father´s Son
3. What Does It Matter
4. Indian Summer
5. I Will Walk With You
6. Love You Blind
7. Near Me
8. When Love Is Over
9. You Want It All
10. Hundreds of Tears
11. The Last Time
12. Borrowed Time

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Bruce Kulick – Audio Dog (2001):



Por Davi Pascale

Em 2001, Bruce Kulick lançou seu primeiro álbum solo. Material misturava temas instrumentais com faixas cantadas e certamente agradará aos fãs do rapaz.

Bruce Howard Kulick tem uma longa carreira e atingiu a fama ao se juntar ao Kiss em 1984, substituindo o guitarrista Mark St John, que havia ficado responsável pelas guitarras de Animalize. Seu primeiro trabalho com a banda foi o LP Asylum. Durante os onze anos em que esteve frente ao grupo, o rapaz se destacou por dar uma nova cara à banda. Possuía a técnica e destreza dos dois guitarristas anteriores, mas sabia trabalhar melhor com esse universo e era um musico mais completo. Depois de Ace Frehley, foi o melhor guitarrista que passou pelo Kiss.

Audio Dog é seu primeiro trabalho solo e o primeiro após o Union. O grupo havia sido criado após sua saída do quarteto norte-americano. Os músicos haviam decidido retornar às máscaras e à formação original. O musico resolveu encarar uma nova empreitada e criou uma banda ao lado de John Corabi, ex-vocalista do Motley Crue que vivia uma situação parecida.

Esse álbum de 2001 traz muitas similaridades ao trabalho da Union. Nas faixas cantadas, ele resgata aquela sonoridade mais suja, quase alternativa, que havia influenciado Carnival of Souls e havia dado a tônica para criação das canções de seu novo grupo. Já assisti uma entrevista do Paul Stanley, onde declarava que o direcionamento musical do álbum de 97 foi criado para agradar Kulick. Embora as decisões musicais sempre tenham ficado a cargo da dupla Stanley/Simmons, realmente faz sentido se analisarmos o que cada um deles fez após esse período.

“Change Is Coming”, “Need Me”, “I Can´t Take” e “Dogs of Morrison” seguem exatamente essa linha. Vale prestar atenção, inclusive, no solo de guitarra de “Need Me”, um dos melhores do disco. Outro ponto a ser notado é a evolução de Bruce enquanto cantor. Ok, o alcance dele não é alto, mas o trabalho vocal está muito mais agradável, consistente e seguro do que o trabalho realizado na faixa “I Walk Alone” (Carnival of Souls).

Bruce Kulick em uma de suas passagens no Brasil

“I Can´t Take” e “Need Me” acredito que seja as que tenham mais a ver com o Kiss. “Dogs of Morrison” não tem nenhuma relação com o vocalista do Doors, a letra se refere à Morrison Street, rua onde o musico morava na época, localizada na região de Sherman Oaks. A mais fraquinha do álbum acredito que seja a balada “I Don´t Mind”.

Muitos gostam de questionar a habilidade técnica dos músicos do Kiss. Bruce dá um tapa na cara dessas pessoas, principalmente nos temas instrumentais. “Pair of Dice”, “Monster Island”, “Liar” (faixa que já havia aparecido no álbum Return Of The Comet), “495” e “Skydome” trazem fortes influências de Steve Vai, Gary Moore, Jeff Beck e, mais claramente, Joe Satriani. Nada mal, né?

Kulick fez o álbum sem pressa. Gravou todo o material em um estúdio que tinha em sua casa, recorrendo muitas vezes à demos inacabadas de outros grupos onde tinha passado – como Kiss e Good Rats – para criar as faixas apresentadas aqui. Ótimo musico, o cara sabe dosar técnica e feeling como poucos.

Bruce Kulick ficou responsável pela gravação de todas as guitarras, baixo e parte vocal. Para bateria contou com a ajuda de seu velho companheiro de Union, Brent Fitz (sim, o músico da banda do Slash) e o monstro Kenny Aronoff (John Fogerty, Chickenfoot). Audio Dog demonstra um músico inspirado, criativo e apresenta composições bem interessantes e consistentes. Confira!

Nota: 9,0 / 10,0
Status: Inspirado

Faixas:
      01)   Pair Of Dice
      02)   Strange To Me
      03)   Change Is Coming
      04)   Need Me
      05)   I Don´t Mind
      06)   Monster Island
      07)   Please Don´t Wait
      08)   Liar
      09)   I Can´t Take
      10)   Dogs of Morrison
      11)   Skydome 
      12)   495

domingo, 28 de agosto de 2016

Lucas Silveira – Eu Não Sei Lidar (2015):



Por Davi Pascale

Cantor e compositor da Fresno lança seu primeiro livro. Embora não muito comprido, o material é bem interessante e se torna uma leitura necessária entre os fãs do grupo.

Para o bem ou para o mal, a banda Fresno já se encontra no mercado há mais de 15 anos. Embora possuam uma leva de admiradores bem fiéis, os músicos nunca foram unanimidade. Nem entre os fãs de rock, muito menos entre a crítica especializada. Sim, hoje, o ódio em torno dos meninos diminuiu já que eles não são mais a tal novidade. Mas é algo que continua presente com uma certa força.

Se você faz parte da leva que nutre alguma admiração pelos gaúchos, a leitura do livro de Lucas Silveira se torna algo bem interessante. Aqui, o músico explica algumas de suas letras. Desde expressões que parecem não fazer muito sentido, até o real significado da canção. Qual foi a mensagem que quis transmitir e o que o levou a escrever sobre aquele tópico.

Existem vários tipos de artistas, vários estilos de composição e vários tipos de letristas. Existem aqueles que gostam de escrever sobre críticas político-sociais. Caso de bandas como Dead Fish. Existem aqueles que gostam de trabalhar com crônicas. Caso de Fausto Fawcett. Existem aqueles que gostam de trabalhar com aquilo que o brasileiro tem de melhor, ou seja, o bom humor. Caso de Roger Moreira. E existem aqueles que gostam de escrever sobre si próprio. Esse é o universo de Lucas.

Suas letras são reflexos de suas experiências pessoais ou profissionais. Pelo que entendi pela leitura, mais pelo lado pessoal. Ao contar sobre a criação de suas letras, o cantor acaba revelando muito sobre sua historia. Algo que torna a experiência bem interessante.

O musico soa bem honesto em seus relatos. Aborda temas pesados como morte, traição, bullying, o que ajuda a entender a melancolia em torno de várias de suas letras. Esses tópicos retratam não apenas como lida com esse universo, mas também como eles interferiram no seu crescimento e amadurecimento.

Lucas não vai tão a fundo quanto Lobão fez em seu mais recente livro (Em Busca do Rigor e Da Misericórdia) ao explicar seus arranjos. O velho lobo explicava por A+B a escolha de determinada guitarra para gravar tal faixa, corda que trocou para conseguir afinação, porque optou por determinada sequencia de acordes, etc. Entretanto, faz alguns depoimentos interessantes como o uso da tal linguagem poética, a acentuação de sílabas errada pelo ponto de vista gramatical, as críticas recebidas pelo produtor Rick Bonadio e a razão de não dar o braço a torcer. E pior que o garoto tem razão no que diz.

O livro não traz fotos de arquivo, mas traz um projeto gráfico interessante. Embora bem escrito, a linguagem utilizada aqui é bem simples. Uma leitura prazerosa e rápida. Li o material em 2 dias apenas. Para quem quer entender um pouco mais do que se passa na cabeça do musico e entender um pouco da bandeira que a banda defende, a leitura é essencial.

sábado, 27 de agosto de 2016

Noticias do Rock



Fique por dentro do que está rolando no universo do rock. Lançamentos, mortes, curiosidades... Trazemos um resumo com alguns dos principais acontecimentos da semana. Confira! 

Por Davi Pascale


Morre ex-guitarrista do 3 Doors Down

O ex-guitarrista do 3 Doors Down, Matt Roberts, morreu sábado passado aos 38 anos. O músico morreu de madrugada após ter realizado um show beneficente em West Bend (Wisconsin). Matt abandonou o grupo em 2012 por problemas de saúde e tomava medicamentos controlados. Acredita-se que a causa da morte tenha sido uma overdose acidental de remédios.



Malta divulga nova musica e novo vocalista

Já havíamos anunciado aqui que Bruno Boncini havia se desligado do Malta. Para encontrar um substituto, o grupo Malta criou um reality show, exibido pelo GShow, que atendia pelo nome de Malta – Faça Parte Desse Sonho. O vencedor foi a cantora Luana Camarah, ex-Superstar e ex-The Voice Brasil. O grupo já divulgou a primeira musica com a nova vocalista. Confira abaixo.



Novo DVD do Scorpions à caminho

O Scorpions confirmou o lançamento de um novo DVD/Blu-ray. Atendendo pelo nome de Forever And a Day, o documentário mostra a Final Sting Tour ocorrida entre 2011-2012, que prometia ser a ultima tour do grupo, e conta a historia da banda. Junto com o material, vem um segundo disco com a apresentação de 17 de Dezembro de 2012, em Munique, programada para ter sido o ultimo show da carreira do Scorpions. Não entendi a razão do lançamento, já que a banda já desistiu da aposentadoria e segue tocando e lançando discos até hoje.




Prophets of Rage lança seu primeiro EP

O mais novo supergroup da praça, o Prophets of Rage, acaba de lançar seu primeiro EP. Atendendo pelo nome de Party´s Over, o material chegou às lojas dos EUA ontem e conta com 6 faixas. Para quem está por fora, Prophets of Rage é uma banda criada a partir da fusão de ex-membros do Rage Against The Machine com integrantes do Public Enemy e Cypress Hill. Confira o primeiro som a seguir.




Eddie Vedder expulsa fã de show

O vocalista do Pearl Jam, Eddie Vedder, expulsou um fã durante uma apresentação que a banda realizava em Chicago. Ao que tudo indica, o rapaz teria agredido uma mulher na plateia. O cantor, ao notar a cena, parou o show e pediu que o rapaz se retirasse.


sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Izzy Stradlin And The Ju Ju Hounds – Izzy Stradlin And The Ju Ju Hounds (1992):



Por Davi Pascale

Em 1992, Izzy Stradlin lançou seu primeiro trabalho solo. Disco era marcado por um rock básico e foi bem recebido pela crítica da época.

Izzy Stradlin ficou conhecido mundialmente por ter integrado o Guns n´ Roses. Banda onde atuava como guitarrista base e também como compositor. O músico abandonou a banda no meio da turnê do Use Your Illusion por não concordar com as ações de Axl (tanto por conta do tal novo contrato, onde passava a ser considerado meio que um empregado do cantor, quanto por conta das atitudes megalomaníacas do líder. Ou seja, ataques de estrelismo, atrasos todas as noites, etc). Seu primeiro trabalho pós Guns foi justamente esse disco.

Havia muita expectativa em torno do álbum, já que ele era considerado um dos principais compositores do Guns n Roses. Viria ele com uma sonoridade parecida? Conseguiria ele repetir o êxito de sua ex-banda? Muitas eram as perguntas que pairavam no ar. Izzy fez de tudo para que o trabalho se mantivesse fora do circuito mainstream. Havia ficado meio desiludido com o formato de indústria em torno de megabandas. Queria continuar tocando, mas sem aquelas maluqices costumeiras.

Izzy Stradlin And The Ju Ju Hounds foi bem recebido pela crítica especializada. A revista Rolling Stone, na época, dizia que era o “melhor álbum dos Stones não gravado pelos Stones”. Realmente, é perceptível a influencia do grupo de Jagger/Richards em diversas faixas. Além de 2 convidados hiper especiais.

Vários convidados integram o disco. Os nomes mais marcantes são o de Craig Ross, o famoso guitarrista de cabelo black power que acompanha o músico Lenny Kravitz. E também, os de Nicky Hopkins (tecladista que participou de gravações dos Rolling Stones) e Ron Wood, guitarrista que assumiu o posto de Mick Taylor e divide as guitarras com Keith Richards até hoje. Os teclados também contaram com as mãos de Ian McLagan. Outro musico das antigas que chegou a emprestar seus dotes para artistas do nível de Joe Cocker, Bob Dylan, Bruce Springsteen, Joe Cocker, Faces, além dos próprios Stones.

Se hoje, vários artistas se inspiram na década de 70, nessa época, várias buscavam inspiração nos anos 60. Caso de Black Crowes, Lenny Kravitz, Primal Scream... Izzy Stradlin And The Ju Ju Hounds ia pela mesmo caminho. “Pressure Drop” e “Bucket O´ Trouble” resgatava suas influencias do punk, algo que já era notável em determinadas músicas do Guns, mas o que ganhava força aqui mesmo era aquela sonoridade mais 60´s.

As duas faixas de trabalho – “Somebody´s Knockin´” e “Shuffle It All” – já deixavam essa influencia stone nítida, mas a coisa não para por aí. “Time Gone By” teve arranjo claramente inspirado em “Not Fade Away” (clássico de Buddy Holly que ganhou uma versão dos Stones). “Train Tracks” e “Cuttin´ The Rug” (melhor trabalho de guitarra do disco) também poderiam ter aparecido em algum álbum lançado pela trupe de Mick Jagger durante a década de 70. “Take a Look At The Guy” e “Come On Now Inside”, dispensam apresentações já que são justamente as faixas que contam com as maõs de Ron Wood e Nicky Hopkins, respectivamente.

Izzy Stadlin And The Ju Ju Hounds obedecia as lógica dos LP´s clássicos do rock. 10 faixas, 40 minutos de som, repertório forte. Álbum que merece ser (re)descoberto pela nova geração de ouvintes e músicos. Não conhece? Corra atrás que a diversão é garantida. Discaço!

Nota: 9,0 / 10,0
Status: Espetacular

Faixas:
      01)   Somebody Knockin´
      02)   Pressure Drop
      03)   Time Gone By
      04)   Shuffle It All
      05)   Bucket O´ Trouble
      06)   Train Tracks
      07)   How Will It Go
      08)   Cuttin´ The Rug
      09)   Take a Look At The Guy 
      10)   Come On Now Inside

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Kadavar – Berlin (2015):



Por Davi Pascale

Trio alemão chega ao seu terceiro disco. Berlin apresenta ótimas composições e traz arranjos inspirados nos anos 70. Ótimo trabalho que vale a pena ser conferido.

Estamos vivendo uma retomada do rock no cenário internacional. Nos últimos anos, tivemos várias bandas bem interessantes surgindo com bons álbuns e demonstrando que os jovens ainda se ligam, sim, no bom e velho rock n roll. 

Bom... banda nova se inspirando nos anos 70 já não é mais nenhuma novidade. Praticamente 80% ou mais da galera que vem se destacando está voltando à essa época como referência. Algo bacana, contudo, é que os grupos que vem dando o que falar, até agora, possuem personalidade. Possuem uma característica única que os diferencia dos demais artistas de sua geração, ainda que bebam na mesma fonte.

O som do Kadavar bebe no stoner e no hard rock, mas não é uma banda tão pesada. Ao menos não em Berlin (já estou com o Abra Kadavar em mãos, mas ainda não tive oportunidade de ouvir). As distorções são bem contidas. O lado mais viajado, mais psicodélico, que grupos como o (ótimo) Blues Pills vêm apostando, também aparece bem sutil. Para ser exato aparece com destaque somente na faixa bônus, “Reich Der Träume”.

Formado por Christoph Lindemann (guitarra, voz), Simon Bouteloup (baixo) e Christoph Bartelt (bateria), o som do trio se destaca pelos ótimos riffs de Lindemann e pela bateria eficiente de Bartelt. Ainda que não sejam uma banda porrada, os músicos possuem grande paixão na execução das canções. O álbum transpira energia.

Faixas como “Last Living Dinosaur”, “Pale Blue Eyes” e “Circles In My Mind” deixam escancarada a influencia de Sabbath fase Ozzy. Mas eles não são um clone do grupo de Tony Iommi, não temos aqui aquelas faixas arrastadas, sombrias, longas. A influencia em questão vocês sentirão nas construções de alguns riffs.

O trabalho vocal é bacana, bem resolvido, mas extremamente contido. Christoph não possui o alcance que vocalistas como Cormac Neeson (The Answer), Elin Larsson (Blues Pills) ou Lzzy Hale (Halestorm) possuem. Ele canta naquela onda meio Nicke Andersson (Hellacopters).

Aliás, o som da banda em diversos momentos me lembrou o Hellacopters. Aquela ideia de resgatar a sonoridade 70´s de maneira mais crua, em faixas curtas, diretas. Trazendo um 'q' de MC5 e Stooges para seu som. Se tivesse que defini-los, em poucas palavras, seria exatamente um cruzamento entre Sabbath e Hellacopters.

As faixas são ótimas, o CD é bem consistente e se torna audição obrigatória entre quem busca novas bandas no universo do rock. Faixas de destaque: “Lords of Illusion”, “Filthy Illsuion”, “Pale Blue Eyes”, “Spanish Wild Rose” e “Into The Night”. Vá de olhos fechados!

Nota: 8,0 / 10,0
Status: Sonoridade retro e enérgica

Faixas:
      01)   Lord Of The Sky
      02)   Last Living Dinosaur
      03)   Thousand Miles Away From Home
      04)   Filthy Illusion
      05)   Pale Blue Eyes
      06)   Stole Dreams
      07)   The Old Man
      08)   Spanish Wild Rose
      09)   Set The World With Your Own Eyes 
      10)   Circles In My Mind
      11)   Into The Night

      12)   Reich Der Träume (Bonus)

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Lobão – Em Busca do Rigor e da Misericordia: Reflexões de Um Ermitão Urbano (2015):



Por Davi Pascale

Cantor e compositor Lobão chega ao seu terceiro livro. Em Busca do Rigor e da Misericordia traz o musico comentando sobre o processo de seu novo álbum e tudo que aconteceu com ele nesse período. Muito bem escrito, material se torna leitura necessária entre seus admiradores.

Desde que sua auto-biografia 50 Anos a Mil se tornou um best seller, Lobão pegou gosto por escrever além de letras de canções. Tornou-se colunista da Veja, lançou O Manifesto do Nada Na Terra do Nunca. Livro que foi repleto de ataques e mal entendidos. Isso não fez com que o artista abaixasse a cabeça, contudo. Além de seu método de composição e temática das letras, musico volta a se posicionar sobre os ataques sofridos durante esse período.

Está tudo registrado aqui. Sua participação nas passeatas, sua aproximação com Olavo de Carvalho, sua suposta mudança à Mimai, sua visita à Brasília. Comenta das dificuldades enfrentadas em seu âmbito familiar e no impacto que todos esses fatores tiveram em sua carreira recentemente.

Para quem é músico ou compositor, o livro é um prato cheio. O músico comenta dos instrumentos que utilizou em cada faixa, das afinações, das inspirações. Nas ideias para mudanças de andamento. O que sentia, o que tentou transmitir. Tanto nos arranjos, quanto nas letras. Ao final de cada explicação, vem a letra na integra. Claro, somente das canções de seu novo álbum. A ideia é refletir o hoje, o período atual. O passado já está retratado em seu primeiro livro.

Autógrafo do Lobão na minha cópia de Em Busca do Rigor e da Misericórdia. Valeu Lobão!

Todas as situações políticas ou familiares são contadas no inicio de cada capítulo, com a ideia de fazer o leitor compreender, o que o levou a retratar aquele tema daquela forma em que aparece no disco. Compreender o que acontecia em seu mundo. Suas vivencias interferem diretamente no seu processo de composição. Ao menos, neste álbum.

Lobão fez em O Rigor e a Misericórdia tudo aquilo que esperamos de um artista sério. Uma obra honesta, sem preocupação inicial com viés comercial. Musicas que reflitam seu estado de alma. Total entrega na concepção e produção do disco. Enquanto muitos gastam fortunas com produtores renomados e estúdio de ponta, o musico fez diferente. Montou um estúdio no quintal de sua casa, aprendeu a manusear os equipamentos e foi em busca daquilo que considerava a sonoridade perfeita.

A ideia de solidão se estendeu à criação do álbum. Lobão não gravou apenas os instrumentos esperados por ele (guitarra, voz e bateria), gravou absolutamente tudo. Baixo, teclado, backing, tudo. Tarefa corajosa e ingrata.

A leitura é intrigante. Escrita em primeira pessoa, o musico relata passo-a-passo todo o processo, todos os ataques reais e cibernéticos mantendo seu estilo de fala. Ou seja, debochado, irônico, irreverente, reflexivo, provocativo e, acima de tudo, com enorme inteligência. Essencial entre os admiradores do velho lobo.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Tom Keifer – The Way Life Goes (2013):





Por Davi Pascale

Publicado originalmente no site Consultoria do Rock

Comecei a me ligar em rock n roll nos anos 80. Do lado internacional, além daquela onda de NWOBHM e thrash metal, uma leva que sempre me chamou a atenção foi a da tão odiada febre de hair bands que, no Brasil, os críticos mauricinhos e intelectualóides gostavam de chamar de rock farofa. Um dos ícones dessa cena foi o Cinderella, a banda de Tom Keifer. E é justamente sobre o álbum dele que trataremos hoje.

Sempre gostei dessas bandas por uma simples razão: os caras eram a perfeita tradução do rock n roll. Vinham com um som simples, contagiante, com letras versando sobre festas e garotas. A mensagem era uma só: diversão. E uma das bandas que sempre me chamou bastante a atenção foi justamente o Cinderella. Existia um diferencial em relação aos outros grupos do gênero. Sim, eles tinham aquelas cabelos volumosos, usavam aquelas roupas espalhafatosas. Sim, eles bebiam na fonte do hard rock dos anos 70, como Kiss e Aerosmith (como vários grupos da época), mas também tinham uma forte veia vinda do blues. Todas essas influências permanecem em The Way Life Goes, primeiro álbum solo de Tom Keifer.

Esse não apenas é seu primeiro disco solo, como é o primeiro álbum de inéditas desde Still Climbing (1994). Nesse meio tempo, muita coisa rolou. A cena musical mudou. As gravadoras perderam a força. O modo de se consumir música mudou. O modo de se divulgar música mudou. O músico enfrentou sérios problemas com suas cordas vocais. O rapaz se viu diante de uma nova situação. E soube contornar como poucos.

O álbum não soa datado, mas também não traz o músico apostando em modernismos. O rapaz manteve sua identidade. A pegada hard rock com blues continua impregnada em seu trabalho, perceptível em faixas como “Ain´t That a Bitch” e “The Way Life Goes”. A influência de rock n´ roll dos anos 70 segue intacta e é perceptível em diversos momentos. “Mood Elevator” é um hard rock fervoroso com uma sonoridade bem Aerosmith, enquanto a balada “Thick In Thin” nos remete à Rod Stewart. “Cold Day In Hell” é outro dos grandes destaques. Arranjo bem rock n roll com uma vibe bem Stones.
 
Como todo bom músico dos anos 80, não esconde sua admiração pelas baladas. Temos algumas aqui. “A Different Light” traz uma influencia country, enquanto “The Flower Song” nos remete ao Cinderella fase Heartbreak Station (1990). Outra que merece destaque é a lindíssima “You Showed Me”. Em outros tempos, seria hit de FM.

O musico teve um sério problema nas cordas vocais nos anos 90. Teve que ficar afastado da cena um tempo. E mais tenso do que isso, teve que reaprender a cantar. Realmente, seu trabalho vocal está mais contido. Sim, está mandando muito bem. O cara é bom, mas está menos gritado, está rasgando menos. “It´s Not Enough” e “Solid Ground” são as duas onde ele mais se aproxima do seu velho estilo.

The Way Life Goes é um álbum honesto e cativante. Embora não soe uma continuação do Cinderella, suas principais referências se fazem presentes. O disco é bem variado e mistura elementos de hard rock, blues e country. A qualidade das composições é alta. Quem gosta do cara, vale dar uma checada. Ótimo retorno!

Faixas:
              01)   Solid Ground
02)   A Different Light
03)   It´s Not Enough
04)   Cold Day In Hell
05)   Thick And Thin
06)   Ask Me Yesterday
07)   Fools Paradise
08)   The Flower Song
09)   Mood Elevator
10)   Welcome To My Mind
11)   You Showed Me
12)   Ain´t That a Bitch
13)   The Way Life Goes
14)   Babylon