quinta-feira, 31 de julho de 2014

5 discos essenciais do metal sinfônico

Por Rafael Menegueti

Se vocês acompanham o blog, devem saber que uma das minhas vertentes favoritas é o metal sinfônico, que pode ser encontrado dentro de vários outros estilos, como o power metal, o gothic metal e até o black metal. Estou sempre postando resenhas, falando sobre bandas do estilo e dando notícias a respeito delas em minhas postagens (e o Davi também). Então eu decidi hoje mostrar cinco dos álbuns mais essenciais para quem não conhece se aventurar no gênero. Sempre lembrando que isso não é um ranking, e que outros discos poderiam entrar nessa relação também:

1- Epica – Design Your Universe


O Epica é sem duvida uma das bandas mais influentes do gênero, e a que melhor sintetiza a essência dele. O som deles vinha evoluindo álbum após álbum, mas foi com “Design Your Universe”, lançado em 2009, que a banda alcançou a combinação perfeita entre orquestrações e seu metal progressivo. Nesse disco podemos encontrar algumas das melhores músicas da banda, e as melhores demonstrações da proposta da banda, de unir trilhas características de cinema com heavy metal.

2- Nightwish – Wishmaster


Terceiro disco do Nightwish, e considerado por muitos o melhor da banda. Foi quando os finlandeses conseguiram firmar seu nome dentro do cenário mundial do metal, graças a um disco equilibrado e com excelentes demonstrações de heavy metal com arranjos orquestrais. O disco é uma sequencia digna para o que a banda já havia começado em seus discos anteriores, e nos prepara para o que viria depois, em seus discos mais famosos comercialmente.

3- After Forever – Decipher


A banda onde Mark Jansen começou a dar mostras de seu talento para o gênero. “Decipher” foi seu ultimo trabalho antes de sair para formar o Epica, mas foi onde ele deu a letra do rumo que seu trabalho tomaria. As inspirações em música árabe e gótica tornam o disco um interessante exemplo de diversidade musical em uma banda de metal. Após esse disco, o After Forever começaria a rumar para uma sonoridade mais própria, enquanto essas composições mais elaboradas acompanhariam Mark no Epica.

4- Delain – Lucidity


O primeiro disco do Delain foi produzido como um projeto. Liderado por Martjin Westerholt, o Delain juntou vários nomes consagrados do metal gótico e sinfônico europeu para lançar esse primeiro trabalho. Ad Sluijter (Na época ainda no Epica), Marco Hietala (Nightwish), Jan Yrlund (Lacrimosa), Sharon Den Adel (Within Temptation) e Liv Kristine, entre outros, fizeram parte dessa primeira empreitada. Mas seria Charlotte Wessels que se tornaria a estrela do grupo, brilhando em um disco extremamente coeso e melódico.

5- Dimmu Borgir – Death Cult Armageddon



O black metal também usa os arranjos orquestrais para incrementar seu som. O Dimmu Borgir, maior banda do gênero, abusa das orquestrações tornando o seu black metal ainda mais atmosférico e épico. A banda começou com arranjos simples e foi aumentando, até que em “Death Cult Armageddon”, de 2004, eles alcançaram a combinação perfeita, com uma orquestração pesada de uma orquestra completa, para criar uma sonoridade ainda mais obscura e sinistra, como deve ser para o black metal. Um clássico da banda norueguesa.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Sonic Syndicate - Sonic Syndicate (2014)

Por Rafael Menegueti

Sonic Syndicate - Sonic Syndicate
Durante um bom tempo existiu um enorme ponto de interrogação sobre o que ocorreria com o Sonic Syndicate. A banda sueca de metalcore passou por um período conturbado que antecedeu o hiato de quase três anos da banda. As saídas de seus vocalistas e do guitarrista Roger Sjunnesson, que fundaram o The Unguided, fez com que a banda precisasse se reeinventar antes de seguir em frente. Isso porque eles precisavam trazer seus fãs para o lado deles, após a rejeição que muitos tiveram ao ultimo lançamento da banda, “We Rule the Night”.

Para muitos, a mudança de estilo que a banda apresentou nesse disco foi negativa. Ainda com os irmãos Roger e Richard Sjunnesson na banda, “We Rule the Night” teve uma abordagem diferente dos primeiros trabalhos da banda. O peso conhecido das músicas do grupo deu lugar a uma sonoridade mais comercial, oposta ao que a banda tinha como proposta principal. Muitos fãs escolheram como culpado o novo vocalista, Nathan Biggs, uma vez que ele não tinha o mesmo carisma de Roland Johansson, o que fez com que ele passasse a ser odiado por muitos deles.

Tendo o objetivo de reconquistar o espaço perdido após esse período, a banda lança seu disco homônimo agora, com uma proposta mais humilde e bem menos comercial. A começar pela formação do grupo. As saídas de Roger e Richard ainda não foram repostas, e o grupo gravou esse novo disco como um quarteto. Robin Sjunnesson ficou a cargo de gravar todas as guitarras e de alguns dos gritos, e Nathan cuidou sozinho dos vocais principais. Karin Axelsson e John Bengtsson seguem respectivamente no baixo e bateria como sempre.

O Sonic Syndicate gravou o disco com apenas quatro integrantes
Sem fazer muito alarde, a banda tratou de trazer a tona um disco que resgata o antigo peso e melodia metalcore da banda. A começar por “Day of the Dead”, que tem todas as características do clássico Sonic Syndicate, riffs pesados, versos berrados e um refrão forte e marcante. O single “Black Hole Halo” também mostra essa intenção da banda. Os sintetizadores que ajudam a incrementar o som da banda seguem fazendo seu papel nesse disco. Diferente de “We Rule the Night”, a banda opta por usar bem menos elementos comerciais e partem para algo mais próximo de suas origens. Claro que nem tudo é exatamente como antes, mas é perceptível que eles querem reconquistar seu público.

O peso dos berros guturais são constantes nesse disco, que deixa de lado qualquer semelhança com o som de seu antecessor. “Long Road Home” é extremamente pesada, e tem uma levada bem acelerada. As guitarras se destacam em faixas como “Umbreakable”, “It Takes Me” e “So Addicted”, que tem é uma das mais agitadas e potentes do disco. Mas a faixa mais pesada é sem duvidas é “See What I See”, que lembra Pantera e In Flames em sua pegada. “Before You Finally Break” uma das melhores do disco, conta com a participação especial de Björn “Speed” Strid, do Soilwork, que da um animo a mais ao disco.

E pode esquecer a suavidade presente em certos momentos da carreira da banda. Aqui a proposta é mesmo a porrada do inicio ao fim. Nem mesmo as faixas bônus da edição digipak dão uma trégua na agressividade do disco. A banda estava realmente decidida a deixar momentos como “Turn It Up” e “My Own Life” para trás. Certamente esse novo trabalho veio para dar vida nova ao grupo, e não duvido que ele deve pelo menos tirar a imagem de banda “vendida” que muita gente, incluindo até o ex-vocalista Richard Sjunnesson, chegou a dar ao grupo. O Sonic Syndicate está de volta pra valer.

Nota:8,5/10
Status: revigorado

Faixas:

01. Day Of The Dead
02. Black Hole Halo
03. Long Road Home
04. My Revenge
05. Before You Finally Break (feat. Bjorn “Speed’ Strid of Soilwork)
06. Catching Fire
07. Unbreakable
08. It Takes Me
09. See What I See
10. So Addicted
11. The Flame That Changed The World
12. Diabolical Work Of Art (Limited Edition)
13. What We Shared (Limited Edition)
14. Another Soldier Down (Limited Edition)

Sonic Syndicate - Before You Finally Break


segunda-feira, 28 de julho de 2014

Xandria – Sacrificium (2014)

Por Rafael Menegueti

Xandria - Sacrificium
A banda de metal sinfonico alemã Xandria é uma das mais interessantes do gênero e possui uma carreira consolidada com seis álbuns de estúdio lançados. O grupo no entanto passou por varias mudanças recentes nos vocais. A vocalista Lisa Middelhauve, carismática e adorada pelos seus fãs, decidiu deixar a banda em 2008 após lançar quatro álbuns com o grupo. Sua substituta, Kerstin Bischof, deixou o grupo apenas um ano depois de assumir o posto. Sua substituta, Manuela Kraler, demorou a ser encontrada, e a banda lançou o disco “Neverworld’s End” em 2012. Mas Manuela tambem não ficou muito tempo na banda, anunciando sua saída em outubro do ano passado.

A banda então chamou a holandesa Diane van Giersbergen (não confundir com a também holandesa Anekke van Giersbergen, elas não possuem relação de parentesco nenhuma) e com ela, eles agora lançam “Sacrificium”, seu sexto trabalho de estúdio. Com esse trabalho a banda busca uma continuidade a evolução que eles iniciaram em “Neverworld’s End”.

A evolução que digo foi no sentido de dar um aspecto mais pesado e progressivo às músicas da banda. Essa característica já pode ser vista na faixa que abre o disco, “Sacrificium”, com dez minutos de duração. “Nightfall”, primeira música de trabalho do disco, tambem é excelente, dando o tom desse disco. Os vocais de Diane são excelentes. Ela segue a mesma linha lírica de suas antecessoras, talvez mais próxima do que Manuela fazia. Não decepciona e faz exatamente o que se espera dela no disco.

O Xandria, com Diane van Giersbergen no centro 
Os músicos nos oferecem faixas cheias de peso, com riffs intensos e arranjos que deixam o som da banda atmosférico e épico. Dentre as faixas que exaltam essas características destaco “Stardust”, a enérgica “Betrayer” e “Little Red Relish”. Outras faixas mostram uma banda mais cadenciada, com ênfase na melodia e nos arranjos de teclado e sinfônico. Casos de “The Undiscovered Land”, “Until the End” e de “Temple of Hate”. O disco ganha ares mais tranquilos em faixas como “Our Neverworld” e de “Sweet Atonement”, balada que encerra o disco.

Com produção do sempre presente em lançamentos do tipo Joost van den Broek e tambem do próprio guitarrista da banda, Marco Heubaum, “Sacrificium” pode ser facilmente considerado um dos trabalhos mais ousados da banda. Não consigo dizer qual fase me agrada mais no grupo, se eram as faixas mais melódicas dos tempos de Lisa Middelhauve, ou essa nova pegada mais enérgica atual. O fato é que esse disco tem tudo pra ser um dos favoritos dos fãs e apresenta uma nova e bem entrosada vocalista, para dar contuidade a um trabalho que não pode acabar.

Nota:9,5/10
Status: empolgante

Faixas:

1. Sacrificium
2. Nightfall
3. Dreamkeeper
4. Stardust
5. The Undiscovered Land
6. Betrayer
7. Until The End
8. Come With Me
9. Little Red Relish
10. Our Neverworld
11. Temple Of Hate
12. Sweet Atonement

Xandria - Nightfall


domingo, 27 de julho de 2014

Parental Advisory: censura disfarçada





Por Davi Pascale

Bom... Vocês devem se lembrar de quando escrevi o artigo comentando sobre a canção “Suicide Solution” do Ozzy Osbourne onde o cantor foi atacado de incentivar o suicídio de um jovem, certo? Então vocês devem se lembrar também do meu comentário sobre artistas de rock serem constantemente perseguidos. De todos os ataques que os músicos sofreram, com certeza, esse foi o maior de todos.

O rock n roll sempre foi mal visto pela sociedade. Portanto, não é nenhum espanto que quando ele se tornou moda nos Estados Unidos na década de 80 (sim, o Brasil não foi o único país a ter seu momento roqueiro nessa época), ele voltou a ser atacado. Sim, voltou. Logo no inicio, as igrejas acusavam o rock de despertar interesse sexual na juventude e perseguiam os músicos por isso. Jerry Lee Lewis e Elvis Presley foram atacados nesse sentido. Não sei se vocês sabem, mas o rei do rock foi proibido de ser filmado da cintura para baixo nos programas de televisão porque sua dança era considerada obscena.

Estados Unidos, o berço do rock, é um país com forte base religiosa. E foi por isso que o depoimento de John Lennon causou tanto estardalhaço (o depoimento foi feito para uma publicação inglesa, mas somente se transformou em um circo após começar a aparecer estampado nas publicações norte-americanas). E, para dizer a verdade, o cantor foi mal-interpretado. As pessoas costumam citar o caso como se ele estivesse se achando superior à Jesus, mas na verdade, estava dizendo apenas que o interesse dos jovens pelo cristianismo não era mais o mesmo. Até fez uma brincadeira na ocasião: “Não sei o que irá desaparecer antes: o rock ou o cristianismo”. A resposta foi tão exagerada que chegaram, inclusive, a queimar discos dos Beatles em praça publica em forma de protesto. Isso para não citar o Kiss, onde um grupo de mães evangélicas inventou que o nome da banda significava Knights In Satan´s Service, na tentativa de impedir um concerto que fariam na cidade.

Tipper Gore queria controlar o que as crianças ouviam

Em 1985, foi a vez de Tipper Gore (esposa do vice-presidente Al Gore) se colocar contra o gênero. Tipper, formada em psicologia, lutava contra as imagens de violência que eram expostas para as crianças na mídia. E eis que ela resolveu expandir sua luta até a música, com a ajuda das esposas de alguns senadores. Exigiam que discos com conteudos sobre drogas, ocultismo, sexo e que tivesse mensagens satanicas quando rodados ao contrario (lembram-se da história de Ozzy), fossem banidos do mercado. Como o rock n roll era a febre do momento, não precisa ser um grande gênio para descobrir quem foi o alvo principal. No filme de 2002, Warning: Parental Advisory, a moça comenta: “resolvi me envolver porque vi os tipos de letras de rock que meus filhos estavam sendo expostos. Fiquei chocada. Falavam sobre masturbação, sexo oral...” 

Com grande influencia política, a garota conseguiu travar uma guerra contra as gravadoras. Nas reuniões, sugeriu que os discos tivessem classificações como acontece com os filmes ou ainda que viessem com as letras expostas nas capas dos LP´s. Os executivos explicaram que essas praticas não eram possíveis. Eram milhares de musicas que recebiam por mês, não tinham como analisar a letra de cada uma delas detalhadamente. E quanto às letras na capa, envolvia questão de direitos autorais dos compositores, não poderiam serem expostas em todo lugar. O controle era pesado. Queriam banir qualquer coisa que estivesse contra os ditos bons costumes. Até artistas inofensivos como Michael Jackson e Peter, Paul & Mary correram o risco de serem banidos.

Os músicos travaram uma batalha contra. Sentiam-se censurados. “Músicos, bandas e compositores mudarem suas palavras para que pudessem ter seu LP vendido no supermercado? O que é isso?”, questionava Rob Halford (vocalista do Judas Priest). Os músicos Frank Zappa, John Denver e Dee Snider (cantor do Twisted Sister) compraram a briga e resolveram bater de frente com Gore e a turma do PRMC. Além de se sentirem censurados, sentiam seu futuro ameaçado. “Queriam colocar um adesivo nas capas para impedirem que o disco chegasse às lojas”, afirmava Dee Snider. Zappa concordava com ele. Os músicos foram discutir a questão em um tribunal para defender a liberdade de expressão e mostrar como tudo era exagerado. “Tudo isso que é dito nas letras, é demonstrado na CBS News de manhã, o que é mais prejudicial?”, disse Zappa. O cantor do Twisted Sister foi mais além. “A senhora Gore disse que “Under The Blade” fala sobre sadomasoquismo, estupro... Pelo contrário, fala sobre cirurgia e sobre o medo que ela causa nas pessoas. Afirmo categoricamente, que se enxerga outra coisa é obra de sua mente”. Varias bandas foram atacadas na ocasião: Judas Priest, W.A.S.P. e, mais uma vez, Kiss eram atacados por suas letras de conteúdo sexuais. 

Dee Snider foi um dos músicos que deu a cara para bater
 
A solução para que os discos pudessem continuar sendo circulados foi a criação do selo Parental Advisory que servia como um alerta aos pais. Uma demonstração de que ali haveria conteúdo falando sobre drogas, sexo e violência. Diziam que não havia censura, mas a orientação era de que os discos com esse selo não poderiam ser vendidos à menores de 18 anos.  Claro que os lojistas não levaram isso à sério. Caso contrário, suas vendas cairiam significativamente. O controle, alías, é tão mal feito que o disco instrumental de Frank Zappa, Jazz From Hell, recebeu o adesivo.

Durante os anos, artistas norte-americanos tiveram capas censuradas (o Rafael fez um post recentemente aqui comentado sobre discos com capas alternativas), clipes e shows com áudio cortado nos palavrões, artistas foram proibidos de se apresentarem no pais por declararem que não concordavam com as atitudes de seu governo (o grupo country Dixie Chics sofreu com isso). No Brasil, já tivemos algo parecido por aqui com LPs com dizeres estampados na capa alertando que era proibida a venda para menores de 18 anos, buzina nas rádios, vinil sendo recolhido e tendo faixa riscada para que o consumidor não ouvisse a musica etc. Com essa onda de politicamente correto, torço para que essa palhaçada não volte.

sábado, 26 de julho de 2014

Detonator e a Furia dos Headbangers





Por Davi Pascale

Detonator, personagem do Massacration (banda fictícia-humoristica da turma do Hermes e Renato), lançou seu primeiro álbum solo. Quando o Massacration lançou seu debut, Gates of Metal Fried Chicken of Death, vários headbangers ficaram indignados dizendo que aquilo era uma falta de respeito, que era uma vergonha, que tirava o espaço de artistas sérios, etc etc etc. Depois de um tempo, varias dessas pessoas os aceitaram e o grupo passou, inclusive, a dividir palco com atrações internacionais no Brasil. Via-se vários headbangers dando altas risadas e cantando “Metal Bucetation”. E, agora, com a estréia de Detonator, a discussão voltou... Pelo visto, no Brasil, sucesso incomoda.

Gostar ou não do trabalho de alguém é uma coisa. Fazer campanha contra, ficar mandando cartas para revistas especializadas, ficar desmerecendo, ridicularizando ou diminuindo alguém que escute é outra. Um dos comentários que li foi ‘ninguém que goste de heavy/hard de verdade, gosta disso’. Como se a questão de você se identificar com o trabalho de alguém estivesse diretamente ligado à conhecimento musical aprofundado. Para gostar do trabalho de Detonator, do Massacration, do Mamonas Assassinas, do Ultraje a Rigor, é necessário apenas ter bom humor. Esse comentário é tão sem noção que o Ultraje é uma das bandas mais amadas entre os roqueiros e o Mamonas até hoje é lembrado com carinho. E ambos possuem uma forte veia humorística em seu trabalho.

O pessoal do heavy metal tem tanto ódio e tanta falta de compreensão que, sem querer, acabam dando mais apoio ao artista que abomina. Não sei se já pararam para pensar sobre isso. Um ótimo exemplo foi um grupo de pessoas, que provavelmente não tem muito o que fazer, que criou uma petição online exigindo o fim da banda Ghost. Será que eles realmente acham que os músicos do Ghost vão ler aquilo e dizer ‘putz, chegou o nosso fim’? Certamente, não. Mas, certamente, colocou o nome da banda de volta à mídia e fez com que varias pessoas que nunca tinham parado para ouvir seu som, tivesse curiosidade de ir atrás para saber do porque algo ser tão odiável. E, muito provavelmente, algumas dessas pessoas viraram fãs. Ou seja, além de não acabar com o grupo, trouxeram novos admiradores aos rapazes.

Sucesso e humor de Detonator ainda irrita fãs conservadores

Todo esse auê em cima do trabalho do personagem criado pelo Bruno Sutter se deu por algo banal. Foi divulgado no site Whiplash uma nota dizendo que o CD do Detonator era o mais vendido da Die Hard (excelente loja das Grandes Galerias que tem o costume de deixar os 5 álbuns mais vendidos em uma parede). Interessante que essas mesmas pessoas quando querem defender o heavy metal (que é um gênero que aprecio muito, já deixo claro) costumam dizer que venda não quer dizer nada. Se não quer dizer nada, por que a indignação? 

Quanto ao lance de jogar contra a cena também não concordo. Muito garoto que começou ouvindo rock pelo Massacration (sim, essas pessoas existem), acabou se tornando fã de Iron Maiden, Ozzy, etc. Por que? Porque desperta interesse em ir mais à fundo no gênero. Ou seja, a brincadeira dos garotos ajudou a cena criando novos fãs.

Aliás, a brincadeira atual de Sutter traz dois questionamentos sensatos à nossa cena. O rapaz fez um álbum de heavy metal abordando o folclore brasileiro e cantado em português que são dois questionamentos que sempre fiz. Por que pouquíssimas bandas cantam em nosso idioma e porque muito neguinho faz letra escrevendo sobre a cultura norte-americana ou européia se vivemos no Brasil? Ok, vai ter gente dizendo aqui que a escolha da língua é porque visam o mercado internacional. Mas não seria melhor conquistar primeiro o seu país para depois ir ao estrangeiro como um artista já consagrado, como fazem diversos artistas pop? Pelo visto à discussão está indo por caminho errado...

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Música Comentada: Serenity – Serenade of Flames

Por Rafael Menegueti
 
Os membros do Serenity
Já falei aqui no blog sobre o Serenity. Essa banda de power metal sinfônico da Áustria tem como uma de suas características usar referencias a figuras históricas da humanidade em suas músicas. Inspirados nesses personagens, a banda cria faixas excelentes e bastante criativas. “Serenade of Flames” é uma de minhas faixas favoritas da banda. Lançada no álbum “Death & Legacy”, a canção foi inspirada na figura de Heinrich Kramer, famoso religioso alemão e um dos maiores inquisitores da historia. Na faixa, o vocalista Georg Neuhauser fala como se fosse Heinrich, enquanto se encontra com uma de suas vitimas de perseguição, interpretada pela voz de Charlotte Wessels do Delain.

(Georg – azul; Charlotte – Vermelho)

I'm glad we're talking face to face
You know i've got a job to do
And i expect some help from you, too
Soon you'll call them in to torture me
Why do you need this privacy?
You'll have your horrid joy anyway

Estou contente por falar com você cara a cara
Você sabe que tenho um trabalho a fazer
E eu espero que você colabore um pouco também
Logo você os chamará para me torturarem
Por que você precisa desta privacidade?
Você terá seu horrível prazer de qualquer jeito

A primeira estrofe mostra o contato entre o inquisitor e a jovem presa, acusada de bruxaria. Ele quer a confissão dela, e espera que ela colabore com seus objetivos, mesmo que ela não tenha nada a confessar.


One more night and then in flames you'll die
Nothing you can do or say could change your fate
You are mine!
One more night and then in flames you'll die
We invented lucifer to spread the fear
Across the nations

Mais uma noite e então você morrerá em chamas
Nada do que você disser ou fizer mudará seu destino
Você é minha!
Mais uma noite e então você morrerá em chamas
Nós inventamos Lúcifer para espalhar o medo
Através das nações

Enquanto ameaça a jovem acusada de bruxaria, Kramer deixaria claro que busca seria uma farsa que esconderia outros objetivos mais obscuros. Ainda enquanto tortura a jovem ele explica o motivo de ela estar sendo acusada de tal crime.

I can't negate the evidence
They say you've healed a little girl
With guidance from another world
Then a good deed, now my last mistake
You tell me my reward's the stake
Is this the christian duty you preach?

Eu não posso negar a prova
Dizem que você curou uma garotinha
Com orientações de outro mundo
Então, uma boa ação, agora é meu último erro
Você me diz que minha recompensa é a fogueira
É esse o dever cristão que você prega?

Não importasse o que a jovem dissesse seu futuro já estava traçado pelo inquisitor, mas ele insistia em seguir com o processo, a fim de obter uma confissão forçada.

You've been caught in our system of power and fear
We will break your resistance, your confession is near
Malleus Maleficarum

Você foi pega em nosso sistema de poder e medo
Nós iremos quebrar sua resistência, sua confissão está próxima
Malleus Maleficarum

“MalleusMaleficarum” (traduzida em português como “O Martelo das Bruxas”) é o nome da obra escrita por Kramer, junto à Jacobus Sprenger, que funciona como uma espécie de guia de identificação e caça às bruxas. Nos últimos versos, a jovem acusada de bruxaria tenta pela ultima vez confrontar seu carrasco, agora usando a fé dele como uma arma. Mas ela recebe uma resposta que demonstra de uma vez por todas que suas intenções vão muito alem do que a fé pregaria.

Don't you think god is watching?
Your carnival of lies won't last eternally
Trust my words, if he's watching he has never showed
And he won't take your soul

Você acha que Deus não está assistindo?
Seu carnaval de mentiras não ira durar eternamente
Acredite em minhas palavras, se ele está assistindo, ele nunca demonstrou
E ele não levará sua alma

One more night and then in flames I’ll die…


Mais uma noite e então em chamas eu morrerei... 




quinta-feira, 24 de julho de 2014

The Red Jumpsuit Apparatus - 4 (2014)

Por Rafael Menegueti

The Red Jumpsuit Apparatus - 4
Há algumas semanas, falei aqui sobre essa banda Americana que faz post-hardcore de ótima qualidade. O grupo estava pra lançar “4”, seu quarto álbum de estúdio. O disco foi lançado oficialmente em 4 de julho, e a banda ainda disponibilizou não apenas ele como toda a sua discografia para download de graça em seu site (basta clicar aqui ). Nada mais justo então, do que falar sobre esse novo lançamento da banda.

“4” não foge do que a banda vinha fazendo em seus trabalhos anteriores. Rock cristão, com temperos de metalcore, punk e uma energia típica de bandas adolescentes. O vocalista Ronnie Winter continua dando seus gritos em meio a melodias que andam do mais suave ao mais pesado e típico punk pop (algumas pessoas devem odiar esse termo, mas ele soa perfeito para essa banda).

A música que abre o disco é “Grim 2.0”. a faixa é uma espécie de segunda parte de “Grim Goodbye”, faixa presente no primeiro álbum da banda como bônus. Assim como a primeira, “Grim 2.0” é longa, tem uma estrutura parecida e varias mudanças de andamento e ritmo. A faixa tem momentos pesados e mais suaves, e dita como será o disco que o ouvinte está começando a conhecer.

Em seguida vem “Califórnia”, faixa mais animada, como o nome já sugeriria, e com um refrão bem pegajoso. Ouvindo o disco, nem parece que o grupo passou por algumas mudanças de formação desde “Am I the Enemy”, último disco da banda. Os músicos estão entrosados e continuam mostrando que sabem o que fazem. “The Right Direction”, primeiro single desse trabalho é sem duvida uma das faixas mais fortes do disco. O tipo de música que facilmente conquista o ouvinte.

The Red Jumpsuit Apparatus
O disco consiste principalmente de faixas rápidas e diretas. Poucos momentos do álbum soam leves ou melosos. Nada de sonoridade muito emotiva. “You’re the Mocking Jay” tem muito peso e é carregada por uma forte bateria. “Not My Style” tem uma pegada mais próxima de um hard rock, mas sem perder a essência hardcore. E “ignorance Is Bliss” tem um ar andamento acelerado e agitado. O disco só volta a apresentar faixas menos agressivas e mais radiofônicas em “Other Side”. Já “I Know, Right?” é enérgica e tem uma ótima melodia e refrão. O disco encerra com a baladinha “Jesus Is My Rock Star”, levada por piano e arranjos de cordas, com os vocais de Ronnie Winter completando a melodia, com uma letra que pode ser considerada a primeira faixa realmente gospel da banda.

Com “4”, eu presumo que o The Red Jumpsuit Apparatus esteja firmando cada vez mais seu estilo. Faixas rápidas, simples e pesadas, com mensagens reflexivas e cheias de sentimento e referencias religiosas. Não pense você que ela é uma banda pra cristãos apenas. Seu som é bem abrangente a ponto de agradar qualquer fã desse estilo sem esforço. O disco não é nenhuma obra prima, mas cumpre seu papel na historia dessa banda da flórida.

Nota: 8/10
Status: enérgico

Faixas:
1."Grimm 2.0"
2."California"
3."The Right Direction"
4."Who Do You Work For?"
5."It Was You"
6."You're the Mocking Jay"
7."Not My Style"
8."Ignorance is Bliss"
9."Other Side"
10.""I Know, Right?""
11."JIMRS (Jesus Is My Rock Star)"

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Deep Purple – In Concert ´72 (2012)





Por Davi Pascale

O Deep Purple é uma daquelas bandas que possui mais álbuns ao vivo do que de estúdio em sua discografia. Para complicar ainda mais a situação, vários shows são reeditados com capas e nomes diferentes, o que deixa o fã muitas vezes na duvida sobre comprar ou não o tal material. Em 2012, foi colocado no mercado, inclusive brasileiro, esse disco cuja apresentação completava 40 anos. Mas... O que é esse disco, afinal?

Sem dúvidas, um registro histórico. Esse material já existia no mercado em outras edições, mas essa é a edição que seus fãs sonhavam. Pela primeira vez, lançam a apresentação completa e com a ordem das músicas correta. Sim, há quem altere a ordem das faixas em um disco ao vivo. Ainda mais nesse caso, onde o material foi lançado pela primeira vez em LP. O vinil tem um limite de espaço por lado. E, muitas vezes, era necessário alterar a ordem das faixas para caber no lado do LP. 

Essa apresentação foi gravada no Paris Theatre em Londres, em 9 de Março de 1972, para um programa de rádio da emissora BBC chamado Sounds of the Seventies. A gravação foi ao ar no dia 18 de Março do mesmo ano. Justamente por se tratar de um programa para rádio, os músicos optaram por dialogar com o publico de uma maneira mais intimista. Vão muito além de frases como “olá. Obrigado por terem vindos” ou “uma musica que todos vocês conhecem”. Nada disso, eles aproveitam para contar algumas curiosidades sobre as faixas. Detalhes sobre as gravações, escolha do singles... Como se estivessem gravando no estúdio da rádio. Na versão em longplay (o segundo disco do famoso In Concert), além de terem cortado duas músicas e alterado a ordem do set, também cortaram diversas falas dos músicos. A edição em CD de 1992 também trazia cortes nas falas e, embora apresentasse todas as faixas, “Smoke On The Water” não estava na sequencia correta.

Versão de Space Truckin´ foi deixada de lado do especial de rádio por ser muito longa

O registro traz uma das melhores formações do Purple, a cultuada Mark II (Ritchie Blackmore, Ian Gillan, Jon Lord, Roger Glover e Ian Paice). Há algum tempo, havia escrito sobre o lançamento do CD+DVD Perfect Strangers Live que era a turnê que marcava o retorno dessa formação. Pois bem, se aquela marcava o (bem aceito) retorno, aqui tínhamos o lineup no auge. Os músicos haviam acabado de gravar o, hoje clássico, Machinehead. O álbum nem sequer havia ido para as lojas ainda. Algumas canções gravadas para o disco, já vinham sido testadas nos shows desde 1971. Outras, no entanto, eram apresentadas aqui pela primeira vez. O setlist nada mais é do que o disco quase na íntegra (somente “Pictures of Home” ficou de fora), adicionado de “Strange Kind of Woman” e do clássico “Lucille” (Little Richard).

Os músicos ainda eram jovens, portanto a apresentação esbanja energia. Principalmente, o vocalista Ian Gillan que estava com sua voz mais forte do que nunca. O show é aquilo que esperamos dos rapazes. Vocal forte com diversos agudos. E improvisações e mais improvisações. Aliás, as improvisações eram tão inspiradas que acabou trazendo um pequeno problema para os rapazes nessa época. Sounds of the Seventies era um programa que tinha uma hora de duração e os improvisos dos músicos fizeram com que o show, que tinha apenas 8 canções, durasse 75 minutos. Radio não tem como estender o programa porque você acaba tirando horário de outro programa e isso envolve egos, patrocínios, contratos de divulgação (a principal forma de divulgação de uma musica nessa época eram as rádios) e com isso a versão de 22 minutos de “Space Truckin´” foi eliminada do especial de rádio. A música teve que ser exibida sozinha dentro de outro programa em outra data. Há ainda um bônus track com a versão de “Maybe I´m A Leo”, extraída da passagem de som do grupo. Genial!

Nota: 10/10
Status: Essencial

Faixas:
      01)   Introduction
      02)   Highway Star
      03)   Strange Kind Of Woman
      04)   Maybe I´m A Leo
      05)   Smoke On The Water
      06)   Never Before
      07)   Lazy
      08)   Space Truckin´
      09)   Lucille
      10)  Maybe I´m a Leo (Soundcheck)