segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A evolução do rock – Parte 2: A história influenciando novos rumos



Por Rafael Menegueti

Na primeira parte da minha analise sobre a evolução do rock, eu falei sobre como a música precisa evoluir para conseguir sobreviver e se manter em evidencia. Mas é claro que apenas isso não explica os rumos que o rock, e também outros gêneros musicais, tomaram ao longo dos anos. Um outro fator também é fundamental para inspirar mudanças e criar novas vertentes e estilos dentro da música: a própria sociedade.

A cultura no mundo sempre foi inspirada pelos momentos político-sociais, pelas religiões e pelos ambientes que a rodeiam. Tomemos como exemplo os inúmeros movimentos culturais que surgiram através dos tempos e que foram influenciados pelos acontecimentos e pela forma como a sociedade se comportava, como o renascimento, o iluminismo etc. Com a música ao longo dos tempos nunca foi diferente.

Bom, você deve estar pensando “isso eu já sabia”, imagino eu. Então vamos tratar agora de como esses mesmos fatores foram definindo os rumos do rock. Quando o estilo surgiu, ele era a nova forma de rebeldia. Sua mistura de gêneros, a atitude dos músicos, a inovação e irreverência das musicas, tudo era uma grande novidade naquele momento na década de 50. Porem, conforme o tempo passou, a música passou a ter um papel um pouco mais contestador.

Na década de 60, as guerras e a situação política em que o mundo se encontrava causaram um grande impacto na juventude. O rock passou a pedir paz, a protestar contra a violência e o abuso de poder. O “poder das flores” dos hippies foi uma resposta a esses problemas. O rock pedia paz e amor. Usava a psicodelia e um discurso todo voltado a levar esse pedido em suas músicas. Beatles, Jimi Hendrix, Jefferson Airplane, Janis Joplin, entre outros, criaram um estilo que moveu a juventude e influenciou a música de uma maneira impressionante, até os dias de hoje.

Os Beatles e a Psicodelia
O punk também tinha uma origem contestadora. Diferente dos hippies, a inspiração na política levou o punk rock a criar uma atitude mais áspera e contundente. A anarquia que o estilo prega era obviamente algo que tinha como origem uma insatisfação com os rumos que a política dava ao mundo. Não à toa, na Inglaterra, os Sex Pistols atacavam a coroa britânica nas suas músicas, como a irônica “God Save the Queen” e “Anarchy On the UK”. Até hoje pode se dizer que o punk tenha criado as mais potentes formas de se rebelar contra os governos. É só ver o caso das garotas russas do Pussy Riot, presas por protestarem contra o governo de Vladmir Putin, usando mascaras em uma igreja.

 Falando em igrejas, na década de 70 surgiu o heavy metal, um estilo que sempre buscou usar o universo que o rodeia como uma inspiração para sua sonoridade e letras. A própria essência do heavy metal tem sua origem como uma resposta aos mesmos problemas que originaram o movimento hippie, mas com a religião como um elemento a mais em sua influência. Para alguns, é possível afirmar que ele surgiu como uma reação oposta ao Flower Power. O metal era mais realista, e de certa forma, mais critico do que o movimento surgido década de 60. Ao longo do tempo o estilo foi se dividindo com base nessas características, além das contestações religiosas com as quais ele sempre se deparou. O metal foi perseguido e censurado inúmeras vezes por ser extremamente envolvido com coisas que a sociedade queria esconder: Ocultismo, violência, sexo e drogas. Tudo isso e muito mais fez do movimento um dos mais ramificados do mundo do rock.

Os adolescentes incendiários do black metal norueguês evidenciaram que o rancor contra o cristianismo e a forma violenta como ele foi imposto em diversos países europeus tinham espaço na evolução do heavy metal. Da mesma forma como o power metal busca uma proximidade com as origens medievais e folclóricas dos povos europeus. Nenhum outro estilo no rock valoriza tanto a preservação de seus aspectos culturais mais antigos.



Mayhem: Religiâo e ocultismo influenciaram o black metal...
... enquanto a era medieval influenciou o power metal, como nessa capa do Blind Guardian.
No Brasil, a ditadura e a sempre presente revolta com a política nacional ditaram os sons que as bandas de rock brasileiras executavam nas décadas de 70 e 80. Basta lembrarmos o movimento do rock de Brasília nos anos 80, com o surgimento de bandas como a Legião Urbana e o Capital Inicial para termos um ótimo exemplo disso. O discurso de indignação com os nossos lideres sempre foi um dos melhores combustíveis de nosso rock. E ele rende até hoje, pois as musicas escritas naquela época, como, por exemplo, “Que País É Esse” da Legião, seguem tão atuais quanto na época que foram escritas.

É claro que com o tempo novas formas da música se relacionar com o que ocorre no mundo vão surgir. Por isso é importante ter em mente que, para estar atualizado com o que ocorre na música, devemos estar atualizados com o que está rolando em nossa sociedade. E assim será pelo resto da história.