segunda-feira, 16 de maio de 2016

89 FM: A História da Rádio Rock do Brasil (2014):



Por Davi Pascale

Confesso que descobri esse livro meio por acaso. Encontrei ele em uma banca de jornal e resolvi arriscar. Embora não seja mais um ouvinte assíduo de rádio, a 89 FM fez parte da minha formação musical. Escrito pelo jornalista Ricardo Alexandre (Bizz), o livrinho trás várias histórias curiosas e deve ser conferido por quem tem curiosidade de um conhecer um pouco mais do show business brasileiro.

Já comentei algumas vezes por aqui que comecei a ouvir rock n roll ainda criança, lá pelos anos 80. Era uma época bem diferente da que atravessamos hoje. Sem internet, ficava sabendo das notícias pelas publicações especializadas. As primeiras que tive contato foram a Bizz e a Rock Brigade. Descobria músicas revirando as coleções de discos do meu pai e antenado no que estava rolando nas rádios e na TV na época. Pré-MTV, descobria boa parte dos grupos internacionais através das rádios. E a 89 era a que mais ouvia nessa época.

A 89 FM foi criada em 1985. Ano marcado pelo fim do Regime Militar, pela primeira edição do Rock in Rio. Era o começo de uma nova era. Muitos nomes que passaram pela emissora, depois foram para a televisão. A MTV pegou muita gente de lá para formar seu cast. Fábio Massari, Edgard Picolli, Paulo Bonfá, todos vieram daqui. Alguns músicos do rock brasileiro também fizeram parte da história da emissora como Kid Vinil (Magazine), Rita Lee, Paulão Carvalho (Velhas Virgens) e José Carlos Godas, o Tatola (Não Religião).

O livro é bacana porque desmistifica algumas ideias. Tinha na cabeça que a emissora sempre tinha sido forte por conta do momento em que foi criada. Também assisti muitos shows que contava com apoio da 89 FM. Mas, na verdade, não. A equipe começou com pouco apoio, estrutura pífia, equipamentos usados e, algumas vezes, ultrapassados. Venceram a partir de um ideal e de muita criatividade. É interessante descobrir como foram criadas algumas estratégias.

O famoso slogan da emissora

Também contam algumas histórias de bastidores curiosas, como a briga que foi ao ar entre o roqueiro Paulo Ricardo (RPM) e o apresentador Tatola. O dia em que Renato Russo (Legião Urbana) foi proibido de subir no prédio ou que Iggor Cavalera (Sepultura) foi confundido com um estagiário. Aliás, poderiam ter encaixado mais algumas histórias desse tipo. Devem ter várias...

A leitura é rápida, a linguagem é fácil e o livro é bem ilustrado. Um material gostoso de revirar. Bacana que trataram de maneira honesta o assunto sobre a época em que se afastaram do rock e se converteram em uma emissora pop. Sim, sempre rolou pop/rock, mas teve uma época em que os caras começaram a tocar Britney Spears, Justin Bieber e o rock sumiu das programações. Sim, aquela mesma rádio em que ouvimos “Epic” (Faith No More) ou “Fear Of The Dark” (Iron Maiden) pela primeira vez. Acreditem se quiser. A razão obviamente era grana.

Houve alguns momentos de extrema dificuldade em se manter a emissora no ar por conta do momento em que a musica estava atravessando. Com poucas bandas de impacto surgindo, modismos surgindo com força, juventude afastada do universo rock. Foi no meio desse auê que a emissora se vendeu e o que atravessamos hoje não é muito diferente. Sertanejo continua com força. Os pagodes sumiram, mas vieram os funks (infelizmente, não com a linguagem musical que gostaríamos. Sim, o funk original é bacana e influenciou diversos grupos de rock, inclusive. Red Hot Chili Peppers é um forte exemplo). Torço para que sobrevivam e ajudem a reverter o quadro. Sim, ainda acredito que seja possível criar uma cena forte novamente. Grupos de qualidade, temos. E a rádio sempre foi uma ótima porta de entrada. A 89FM, a Radio Rock, voltou ao ar há uns 2 anos, mais ou menos, e sempre teve algo a seu favor: marca e credibilidade. 89, está em suas mãos...